segunda-feira, 19 de março de 2012

Saudade

E eu que achava que a loucura era aquela coisa utópica, estranha e que me metia medo, mas que sempre estaria longe demais, hoje me consome, me sinto tão perto dessa loucura que eu não conhecia. Sinto saudades. Falando sozinha, deitada na minha cama que se tornou refúgio, aquele travesseiro molhado de lágrimas impossíveis de conter em determinado momento me tiram o sono. Era tudo tão triste, mas tão cheio de alegria nos pensamentos... Era saudade, era amor, era.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Fecha a porta!

Eu posso lembrar aqui, agora, claramente dos momentos, de todos aqueles que já vivemos tão juntos. Nada cheio de manhas demais, já que isso não é muito a nossa cara, às vezes nós éramos tão selvagens e você me agarrava forte, ao ponto de doer, mas doía uma dor gostosa que já não queria que me largasse e eu soltava fraca uma risada engraçada. E de tantos desses momentos, desses nossos encontros de tarde, acabou que fui deixando cada vez mais um pouco de mim naquilo que era seu. No seu espaço eu fui me infiltrando, você deixando cada vez mais e eu me entremeando nos cantinhos de você. E sem perceber, os fios de cabelo que teimavam em se soltar, ficavam no lençol da sua cama, o cheiro do meu perfume que não desgrudava por nada do seu travesseiro e você me fazia lembrar que era tão bom, depois que ficava sozinho relembrando cada beijo e cada respiro nosso.
Foi tudo ficando, e ficando. Os dois gostaram tanto de ficar que não havia mais espaço pra dizer adeus. Mas do que eu poderia esperar eu já não conseguia mais me imaginar sem sentir todos aqueles desejos incontroláveis. Lembro-me de pensar em um momento de sanidade que a loucura havia se apossado de mim e eu estava totalmente perdida, mal sabia eu que estava realmente perdida na loucura mais normal de amar você.
Que delícia seu suspiro na minha nuca, e eu pensava que fim levaria tudo aquilo.
Hoje só relembrando, olhando nos seus olhos, deitada na sua cama, deixando ainda meus fios perdidos pelo lençol e meu perfume continuando a impregnar nosso ar, eu percebo que não quero ter a mínima noção de onde isso vai chegar. Não há espaços nesse nosso abraço pra essas perguntas, tudo que for certo demais a gente deixa passar.
Já que nos resta apenas a loucura mais insana de nos amarmos.
Olhando ainda nos seus olhos, eu sussurro: Fecha a porta amor, me beija e vamos esquecer por um tempo tudo que passa lá fora.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Ah vai!?

Ai que dó de mim! Ai que dó de ti! Que dó da gente que não se aperta e nem se ama naquela cama!
Cadê seu sorriso colado no meu? O que você fez com todas aquelas risadas bobas? Guardou num baú? Não quer lembrar?
Mas me espera que eu volto e te faço relembrar de tudo isso ai, guardado num canto, me espera ai que eu faço você ter vontade de me amar de novo, me espera e não se arrepende.
Se outrora eu sumir... Me procura, vai?! Não deixa que eu me esconda demais.
Me dá aquele ânimo pra eu dizer coisas sem sentido no seu ouvidinho.
Você promete que me procura?
E se você gritar eu juro que corro pra onde esse seu corpo estiver, eu pulo os muros, eu esqueço as censuras, eu vou pra você. Eu te faço enlouquecer.
Mas só se você me prometer.
Porque se você assim fizer, eu te prometo meu coração e nada mais.
Daí será que dó de ninguém, será que dó que nada, seremos nós dois e o amor.
Mas me promete que espera?

Dedico R.M

terça-feira, 27 de setembro de 2011

E se?

Estou tão entupida de gritos, tão cheia de toda essa loucura que meus pensamentos giram em loucura. Eu grito por dentro, já que melodramatizar tudo me tornaria alguém que não sou. Ai, Deus, e seu e eu resolvesse quebrar tudo?!
Dançar na rua, gritar de raiva não são opções. Que fadigante é esse mundo de censuras mesquinhas. Ai, Deus, e se eu resolvesse me rebelar?
Eu quero chorar, mas isso me tornaria mais fraca. Xingar até esquecer quais são os meus modos. Ai, Deus, e se eu enlouquecer?

E se eu enlouquecer eu grito na rua e danço, tiro minhas roupas e faço um drama e tudo se torna loucura, e tudo gira nessa fadiga sem opções. É tudo encubado, nada planejado. É a minha fraqueza pregada naquela porta... ai, Deus!

domingo, 1 de maio de 2011

O observador

Acorde! Já é tarde! A voz na minha mente gritava sem parar, até me enjoar. Como se fosse mãe chamando e chamando! Droga se levante!
OK! Mesmo que fosse tarde e o sol já estivesse no meio do céu, se mostrando como quem quer ser visto e se exibindo pelas frestas da minha janela e o dia já tivesse começado para muitos, pra mim a noite passada não havia acabado. O gosto do álcool e do cigarro ainda não tinha saído da minha boca e nem a música saído da minha cabeça. Uma batida compassada, com o ritmo certo, feito para que os corpos se mexessem sem parar, sem perceber, com rumo exato, o desejo. O sentimento de solidão bateu tão forte em mim que quase caio quando tento me levantar da cama. E aquele gosto? Não passa! Mas é claro que não, eu não tinha dormido o suficiente. Era tão perceptível assim?
Entendendo-me com meu próprio corpo e com minhas mãos e pernas tremulas decidi que ia até o café mais próximo. Eu não queria ter que fazer, queria apenas pagar por algo que me fizesse acordar.
O café que pedi não tinha açúcar. Será que fiz o pedido certo? Quase me levantei e fui até a moça que limpava o balcão para discutir com ela sobre a falta de açúcar no meu café, que eu tinha pedido justamente para amenizar os gostos anteriores, mas hesitei! Que preguiça de discussões eu estava naquele dia! Que preguiça! Tomei meu café simplesmente. Preto, com pouco açúcar ou nenhum, contra minha vontade, claro, já que eu desejava adoçar um pouco aquele dia, que parecia tão amargo. Desistindo de ficar sentado ali naquele lugar onde todos estavam interessados em apenas comer e se lambuzar de mais um pouco de bolo eu me levantei, paguei e fui em direção a minha casa. Mas no caminho os passos eram tão lentos e ao mesmo tempo tão rápidos que me perdia facilmente, e precisava olhar pra frente e me atentar novamente onde estava e pra onde iria depois.
A minha casa estava lá, me esperando, mas sem ninguém com quem compartilhar o que possivelmente teria sido uma das noites mais insanas já vividas por aquelas pessoas. Eram tantos amigos, mentindo um para o outro, eles nem se conheciam, mas eram ali, naquela hora, melhores amigos de longa data que a mãe conheceu e aprovou. As conversas tão profundas que para uma pessoa tranqüila demais seria um quebra-cabeça para decifrar. Acho que o álcool era culpado por parte daquilo, e gente sóbria não entende isso. Felizmente.
Num canto meio oculto do lugar eu só conseguia observar. Meu pé seguia o ritmo da música, que era tão boa, tão envolvente e sacana. Tão apropriada. Vi de longe algumas pessoas tentando encontrar outra delas mesmas, de longe pude ver na pista de dança pessoas se concentrando na música e deixando-a entrar, e esperando secretamente que alguém percebe essa dispersão e chegasse mais perto, perto o bastante para se encantarem.
Bebi sem me conter, eu já estava cansado de me conter mesmo, fumei, mas conto um segredo aqui, bem baixinho, apenas para os cafonas escutarem, que não sei ao menos tragar um mísero cigarro, mas enfim, quem precisa saber disso. Eu fiz a pose certa, e no meio de todos aqueles corpos e mentes eu fui me tornando um ninguém. Eu não interagi naquela noite, eu queria só observar. Várias vezes fui interrompido por alguém menos compenetrado que eu, mas isso não mudava, ela automaticamente passava de mera intervenção a uma nova possibilidade de análise.
Nessa noite eu não toquei, não fui tocado. Foi tão bom assim, não me sentir invadido, nem corrompido por algo que fosse servir de arrependimento depois. Eu só sentia agora, nessa manhã, relembrando a noite, o gosto horrível e inevitável dos vícios que eu nem tenho. Eu voltei com mais certezas daquele lugar, que se vive errado demais, e fazer o certo nem sempre é tão fácil quanto parece, mas que a bebida e a fumaça não vão colaborar. Eu adorei ser só espectador, numa noite tão insana.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Não é mais um conto de fadas

Ele era novo, um jovem. Nos seus olhos a possível percepção de que já havia vivido as coisas que a vida poderia proporcionar, mas o seu rosto não passava toda essa experiência, não contava a história dos fatos, dos casos, dos acontecimentos, era um rosto de traços simples e até delicados. Para um homem nem sempre essa característica se passa como qualidade, mas sim como um pequeno defeito. Mas no seu caso não era. Era através do seu rosto e do seu sorriso meio de canto que ele conseguia se sobressair dos outros. Sim, o seu corpo era também muito importante. Um jovem atraente. As moças nunca iriam negar isso.
Mas olhando despercebidamente não seria possível repara seu interior, o que estava dentro, o “recheio” que completava o doce. Era preciso ir mais fundo.
Na música ele encontrava a paz que não conseguia em outras coisas. Nas notas de seu violão sempre disponível pra cessar as dores e desilusões, ele ia se perdendo e se achando em sonhos que ele ia criando, e de tanto sonhar ele acreditava e ficando mais sossegado com o som que saia daquele instrumento, com chinelos nos pés, com o espírito rico de sentimentos ele ia acalmando a alma.
Vivendo ofegante todos os sentimentos que a vida lhe proporcionava, ele encontrou em outros olhos o que parecia ser o fim de uma caminhada e o começo de uma nova. Era brilhante e até ofuscava. Era seu sonho se realizando. Projetado em um corpo que lhe atraía e que lhe causava os arrepios que ele sempre gostava de sentir. Ele gostou tão facilmente que se perdeu em meio à realidade e a utopia de sonhos que as vezes imaginava não poderem ser realizados parecia mais fácil agora. Ela sentiu-se acomodada por braços e por palavras. E assim aconteceu.
Beijos dados, mãos unidas mostrando que a segurança e a cumplicidade eram ingredientes principais para tudo que começava a brotar, a saltar e assim os pés saíram do chão, saíram tão rápido que nem houve tempo de sentir medo, não houve tempo de sentir outra coisa senão a gana da paixão, do fogo, dos desejos intensos.
Era apaixonante viver tudo aquilo, e as cordas do violão agora tocavam notas, seguindo a melodia do coração, os planos na mente daquele jovem foram se fundindo com os planos da mente daquela menina, que não entendia muitas coisas que ele dizia, mas se apaixonava por ele cada vez mais. Mas a liberdade que sobrava em um, faltava no outro, e como fita feita em laço mal feito, ele se afrouxou, deixando escapar desejos que juntos eles não poderiam seguir.
O violão tocou então notas baixas, as fotos nas paredes pareciam sempre preto e branco, parecia o fim dos sonhos, e os pés, naqueles chinelos, voltaram ao chão, era tão frustrante mas ao mesmo tempo tão história, tão caso, tão acontecimento. Ficará guardado. Nada é perdido. Não houve mal, só ouve paixão, e os corações se esquentaram com isso. É assim. A afirmação de que essa é a vida, um passar de notas, melodias, quadros enquadrados, poses, sorrisos e lágrimas. Tudo sucessão. Apenas fatos.

Dedico. M.J!

O vazio de todos e de ninguém

As luzes flertavam, assanhadas e incessantes deixando-a um pouco envergonhada, mas a bebida que tomava foi deixando-a cada vez mais aberta as experiências que o local lhe proporcionava. A vibe que estava no ar era tão forte que era possível quase toca-la, respira-la, e assim, inalar sentimentos cada vez mais controversos. Uma hora amor, em outra tristeza, felicidade e euforia, essa, com certeza a mais forte delas.
As luzes não cessavam, elas faziam a pupila dilatar e isso já não incomodada mais, era simplesmente conseqüência de ter deixado o espírito e o corpo se levar. Todos se remexiam no embalo da música que não parava. As pessoas ao redor se mantinham com pensamentos em vários lugares, mas o corpo ali, remexendo, inalando os sentimentos alheios. Desejos envolvidos em extrema pornografia.
Ela não sabia se portar tão bem, era a primeira vez que ela se sentia daquele jeito, mas nada ilícito devo dizer, ela não é esse tipo de garota. Os passos ritmados e envolventes começaram a fazer sentido no momento em que o álcool se fez mais presente do que o esperado. Mas a sensação era estranha, e o sorriso não vinha. O corpo quase a obrigava a quietar, sentar. Mas numa obrigação de se manter ali ela se mantinha de pé, buscando em partes deslocadas um refúgio para seus olhos, onde não houvesse tanta alegria misturada com vontade de se descarregar. Sentiu-se culpada por aquele sentimento e sabia que estava sendo tola demais, até demais. Mas o sentimento não ia! A festa não acabou, a música não parou, as pessoas só dançando, mas o sentimento não ia, não se esvaía, então ela se foi. Deixando aquela explosão de sentimentos que não eram seus ficarem pra trás.
Em sua cama tudo parecia tão familiar, tão dela, tão convincente de que tinha sido tudo um sonho. Ela adormeceu. Seu sentimento vazio não havia sido preenchido por outros, a música não havia sido o remédio, as companhias eram boas, mas faltava algo, e nada poderia suprir, era apenas ela agora, e por muito mais tempo seria apenas ela. O sentimento não ia, ele não se vai, ele fica.

Uma vida que não é minha

Sentada no banco do carro eu vi preocupações passando e passando pela minha mente. Por dentro eu gritei, mas nem eu mesma ouvi. Gritando por dentro e calada por fora. Segurando o volante que não girou para lado algum, ele ficou parado, assim como meus olhos ficaram, olhando pra algum lugar que eles não focavam, só aquele pedaço em branco, nada mais. A batida no vidro me fez saltar assustada, e com os olhos arregalados eu me voltei para o volante e disse que não tinha nada. Crianças na rua. Pedindo por algo que eu não tenho. Eu precisava de um milagre naquele momento, era disso que eu precisava. E se eu pedisse? Alguém me daria? Mas eu não conseguia nem ao menos sair do lugar quanto mais sair por ai e pedir por isso. Tão utópico.
Os caminhos já predeterminados desde a hora que acordei fizeram meu pé pressionar o acelerador e sair vagarosamente dali e fui em direção os meus únicos motivos de existir, minhas filhas. Depois de buscá-las, já em casa e com as obrigações cumpridas, com filhos devidamente alimentados, limpos e dormindo eu pude também me deitar, pensar. Ah, Pensar! Não era uma boa hora pra isso. Pensar trás momentos, trás lembranças e trás a realidade. Eu quis fechar os olhos e trazer o sono. Sim, eu queria apenas dormir. Eu obrigava meus olhos a se fecharem, eles me obedeciam, mas o sonho, a saída da realidade não vinha. Perdendo então a batalha com a tal da realidade eu resolvi pensar então, nos acontecimentos e encará-los como se eu fosse mais forte, mas não como se fosse, mas sendo, sim, bem mais forte que eles. Meu corpo e meu rosto não demonstravam as oscilações de sentimentos em que meu coração se encontrava. Eu tinha amor, e isso me melava, até adoçar demais era ruim naquele instante. ocorpo jogado no colchão já usado várias vezes para me trazer prazer hoje nele eu só pensava. Eu não tinha ninguém, mas eu sabia que tinha. Era só meu momento solitário, era meu momento de pensamentos. Os problemas não sumiram, e eu queria que ele fossem como fumaça, queria soprá-los e deixá-los ir, se dissolvendo todos no ar, e eu, sem respirá-los só os deixaria ir, e ficaria tão feliz que a festa seria por minha conta.
Eu tenho sorrisos, não posso dizer que sou fria, não em todos os momentos, claro! Mas eu tenho sorrisos, tenho amor, tenho vida, tenho ar, e fumaça. Elas ainda não se dissiparam, e a rotina continua “reclamativa” e compulsiva eu vou buscando uma forma de minimizar alguns dos meus pequenos, enjoados e perturbadores problemas.
Eu vou deixando a vida me levar, como diz aquela música, que já tenho vontade de dançar. Na minha cama que trás prazeres momentâneos eu adormeço. Os problemas não se vão, os sonhos calmmente vão tomando a minha mente e meus pensamentos se tornam lizes, festa, apenas sonho.
Eu acordo e a realidade reaparece. O espelho a minha frente me chama, me olho, e sabe, eu não mudei, sou a mesma. Os mesmos filhos, os mesmos amores e... A rotina continua reclamativa e compulsiva! Eu sou a mesma, mas eu sinto que posso mudar, e resolvo! Mudarei o cabelo. É um bom começo afinal!

Dedicado a uma amiga!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sempre comigo

Os dias estão passando tão rápido que nem mais percebo que dia é.
A rotina em que me encontro faz de mim uma pessoa robotizada pelos afazeres que completam o ciclo da vida que vou levando sem reclamar. A chuva que cai lá fora me atrapalha a ir embora do lugar que todo dia estou, mas nem sempre em estado mental, apenas físico e então eu preciso esperar mais meia hora. Não a nada o que fazer. O celular não toca e isso me da à impressão de não ser lembrada, as músicas que coloquei no mp3 estão me enjoando e meu cabelo está sujo, me lembro que preciso lavar. As lembranças de coisas sem sentindo começam a pairar em minha mente, e eu num canto, encostada, me perco por alguns segundos nos momentos que vivi anteriormente. A chuva não para de cair e cada vez mais forte ela vai lavando a cidade. Lava a rua, lava os carros, lava a alma de quem passa. Tem gente com pressa, gente perdida, gente molhada e gente como eu, lá, só esperando as águas que São Pedro decidiu jogar sob a cidade cessar e assim ir pra casa. Ela fica longe, e os meus pensamentos fazem o mesmo, se perdem enquanto vou, enquanto a tempestade passa. Eu lembro dos gestos sinceros e aquilo me incomoda. Lembrar às vezes é perturbador, e a chuva e o frio me levam a nostalgia, e meio que num protesto mando minha mente parar.
Com os pés molhados e sem nenhuma vontade de fazer qualquer outra coisa, chego em casa. Deito-me. Olhando praquele teto sem cor, só tentando diminuir o cansaço dos olhos, mas era fato que minha mente pregaria novamente mais uma peça. E os pensamentos voltaram mais fortes, mais reais, mais vividos, e eu me deixei cair naquela armadilha, e me vi perdida em suspiros e inconsciência. Eu pensei nele, eu pensei em mim, eu pensei em nós, eu pensei na minha vida e na dele, lembrei dos nossos momentos, me lembrei que tinha que lavar o cabelo, ele estava sujo. Então cortada por uma obrigação repentinamente eu me vi sozinha, apenas com ele, o meu pensamento, e percebi que ele estava comigo todo o momento. Debaixo do chuveiro, naquela água quente e até aconchegante, eu senti falta de braços, de boca, de corpo. Mas eu podia sentir, com a ajuda dos meus pensamentos.
Eu voltei pro aconchego da minha cama depois de vestir aquela roupa de sempre, aquele pijama desgastado, mas que eu gosto tanto, o sono indo e vindo. O celular não tocou, as imagens na TV não tinham graça e só pensamentos ficaram pairando. Ele está aqui, em meus pensamentos. O sonho chega , eu durmo, enfim.
Que dia é hoje? Os dias estão passando tão rápido que nem mais percebo que dia é.

Partiu.

Eu senti o cheiro dele no meio de tanta gente, e me senti tão boba por isso que se alguém pudesse ter percebido, eu teria ficado envergonhada com minha insanidade momentânea...

Pensar nele em vários instantes do meu dia apartir daquele momento foi inevitavelmente uma escolha da minha mente e do meu coração, que sabia que já sentiria saudades dos dias em que podíamos perder tempo só jogando aquelas conversas fora, mas que pra nós eram sempre tão construtivas e sempre acrescentavam coisas um ao outro.
Vê-lo partir fez meu coração por um segundo parar e a saliva por um momento não quis passar pela garganta. Os olhos saltaram por esse mesmo instante e eu pensei que as lágrimas fossem cair, mas eu me contive e me senti forte por isso, orgulhosa de mim, eu estava tão segura que não me reconheci. A estranheza que a minha ação trouxe, de me contentar com os dias vividos, os momentos, me fizeram entender coisas que há um tempo eu não imaginaria fazer, eu não acreditei que eram meus braços se contendo, que eram as minhas pernas sem se mexer, que era meu coração e minhas lembranças me acalmando. Ele se foi, partiu, como ele mesmo diz.
Mas eu começo agora a entender o motivo que me fez ficar parada ali, só olhando ele ir. O motivo é a total certeza de que ele sempre vai voltar... Mais forte, mais feliz pelas conquistas, mais feliz por estar em casa, por ter a companhia que pelo motivo das escolhas não pode ter.
Torno-me cada vez mais forte, mais feliz com os regressos. Mas a minha insanidade? Ela só aumenta, e por todos os lados eu vejo o rosto, eu sinto o cheiro, até a voz, daquele que faz e sempre fará o meu coração disparar apenas com sua presença, com seu abraço.

Júlia Lins . 25/01/2011